segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Jovem e o Anjo

Em meus mais belos sonhos encontro-me com um belo anjo, com os cabelos doces como o mel, olhos verdes como a relva e a pele branca como os lírios do vale, seu olhar é triste e distante. Geralmente me aproximo e ele sorri timidamente.
Sento-me a seu lado em silêncio e por poucos segundos, ele olha para mim.
Segundos nos quais, mergulho no verde de seus olhos e vago por sua pele branca.
Ele torna a olhar para o vazio, enquanto permaneço em silêncio.
Certa vez me atrevi a perguntar, porque seus olhos eram tão tristes?
Ele me olhou e disse que amou, mas, que deixara de amar.
Perguntei então porque não amava novamente?
Ele disse:
-Porque ninguém merece meu amor.
Dessa vez quem olhou para o horizonte foi a jovem, enquanto pensava, que , se ele a amasse, honraria seu amor e só a ele se dedicaria.
Na noite seguinte novamente encontrou-se com o anjo e sentou-se em silêncio.
A jovem tinha os olhos negros como à noite.
O anjo diante do silêncio olhou para a jovem e perguntou-lhe
 –Porque teus olhos sempre tão brilhantes como as estrelas, hoje parecem negros como a noite sem elas?
A jovem olhou para o anjo e disse:
J.  – Eu amei, amei, amei ... E ainda amo.
A. – Devias estar feliz.
J.  – Sim, mas, ele não me ama.
O anjo disse:
 – Porque você o ama?
J. – Não sei exatamente, gosto de me sentar a seu lado em silêncio e observar como o vento bate em seus cabelos cor de mel e da forma como sua pele branca reluz na noite, enquanto seus olhos verdes como a relva, permanecem perdidos no horizonte.
A. – Esta triste porque ele te rejeitou?
J.  – Não ele não sabe.
A. – Porque não o disse?
J. – Porque ele não me enxerga.
A. – Como pode?
J. – Ele sofre com o passado. E não se permite perceber o presente, para juntos construirmos um futuro.
O anjo olhou novamente para o vazio, e disse:
- Quanto você o ama?
J.  – Amo o com toda minha existência.
A. – Isso é muito, sabia?
J.  – Sim, eu sei.
A. – Faça- o perceber.
J.  – Como?
A. – Aproxime-se dele.
J.  – Já estou próxima.
A. – Então lhe faça companhia.
J.  – Eu sempre faço.
A. – E ele não percebeu?
J.  – Acho que não, ou finge que não, para, não me magoar.
A. – Você o está justificando?
J.  – Sim, ele não é obrigado a me amar.
A. – Porque não procura outro?
J.  – Não posso, não sou capaz de deixar de ama-lo, para isso seria preciso deixar de existir.
A. – Mas ele não percebe ou finge que não percebe.
J.  – Eu sei.
A. – Porque não conta?
J.  – Tenho medo de perde-lo.
A. – Mas você não o tem.
J. – Mas me sento ao seu lado todos os dias em silêncio.
A. – Mas de que adianta? É melhor que ele saiba.
J. – Não tenho Coragem
A. – Vai viver amando-o sem jamais dizer? Continuar sofrendo? Eu ia preferir deixar de amar.
            A jovem levantou-se em silêncio e se foi.
            Na noite seguinte, ela retornou e como sempre sentou-se em silêncio ao lado do anjo, ambos permaneceram em silêncio durante horas. Até que o anjo olhou para a jovem e disse:
A. – Você esta bonita com esse vestido.
J. – Tomei coragem.
A. – Para que?
J. – Para contar.
A. – E se ele não te amar?
J. – Não importa pelo menos ele saberá.
A. – Não vai se arrepender se ele não te corresponder?
J. – Não.
A. – Por quê?
J. – Porque não verei sua reação.
A. – Como?
            A jovem olhou profundamente para o anjo e depois de alguns segundos, entregou a ele um envelope e disse.
J. – Quer mesmo saber?
A. – Só abra quando eu disser.
J. – Está bem.
            A jovem levantou-se e caminhou até algumas pedras próximas a margem do caminho por onde urgia todas as noites.
            O anjo observou a se afastar sem compreender o motivo do mistério.
            Então ela disse:
A. – Abra.
            O anjo voltou os olhos para o envelope abriu-o e leu-o:
            Anjo eu AMO VOCÊ !
            O anjo rapidamente voltou os olhos para a jovem e viu que seus olhos estavam cheios de lagrimas.
            No mesmo instante a jovem atirou-se no precipício
            O anjo num impulso correu para agarrá-la, mas, a distância era grande demai.
            Ele sentou-se na pedra e disse:
A. – Eu não te amava.
A. – Mas se eu tivesse me permitido enxergar, o quanto alguém me amava, talvez eu tivesse sido feliz.
A. – Ou talvez feito alguém feliz.
A. – Acho que eu poderia te amar.
            Uma lágrima correu por seus olhos, novamente ele voltou seu olhar triste para o horizonte e ali permaneceu.

sábado, 2 de outubro de 2010


Olhando através das cortinas, vejo uma mulher tão branca como a lua, suas longas vestes confundem-se com a escuridão, trazendo o refúgio perfeito, os cabelos longos dançam conforme os paços firmes, em sua mão uma espada.
Seus pés vagam sobre o terreno árido e sem vida.
No horizonte surge um clarão, um forte vento atinge seus cabelos, suas vestes movem-se lentamente ao comando do vento.
Uma música soa ...
Seus olhos abrem-se, negros como a escuridão do árido deserto.
 Ela empunha a espada.
Algo está errado.
Ela não se move.
O vento aumenta, trazendo ainda mais forte a melodia, a claridade torna-se mais intensa.
         Em sua face o desejo de lutar, mas seu corpo permanece imóvel.
A espada ainda em posição de defesa.
Posso ouvir sua respiração, tudo se move lentamente.
Em sua face, o esforço para se mover, a luz se aproxima.
O silêncio...
Ele a toca...
Ela sorri e o abraça.
Seus olhos tornam-se azuis como o céu, sob seus pés a relva verde cresce e o perfume dos lírios invade o campo, gotas de orvalho tocam sua pele.
Ela baixa a espada e olha o lírio.
Derrepente um calafrio percorre seu corpo.
Ela olha adiante e o vê partir.
Seus olhos tornam-se distantes.
Em seus olhos, vê-se o universo, em toda sua imensidão.
Ela caminha enquanto a relva se desfaz sob seus pés.
Em seus olhos pequenas gotas brilham na escuridão.
E de seu peito brotam pequenas gotas vermelhas.
Ela novamente empunha sua espada.
E avança escuridão a dentro.